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'Esqueci a tua voz: segredo asilado em fendas que me
esqueci de fechar'
O 'Cartas a Paris' é um projeto aberto a todos aqueles que querem partilhar as suas palavras, os seus estados d'alma. Deixo-vos o convite... O Cartas a Paris tem sempre a porta aberta ;)
Para mim este texto é simplesmente arrebatador...
'One last cigarette and I'm gone*
Dizias-me, sempre que te escrevia, que as coisas que
desejamos tarde ou nunca as conseguimos.
Dizias-me, sempre que te escrevia, que não sabias se a
minha alma te pertencia mais do que te pertenciam as minhas palavras, que
teimava em te escrever num pedaço de folha qualquer, num talão de supermercado,
num ticket para aguardar a vez, a minha vez, num bilhete de teatro.
E dizias, sempre que te escrevia, que o amor não se devia
servir das palavras, que morrem jovens, quando são ditas da boca para fora ou
escritas num pedaço de papel qualquer.
Que ridículo! Dizia-te eu quando nunca me escrevias.
Os amores são ultimatos, preces vitais para a urgência de
viver, para o sentido de morrer. Mas nunca será: o amor ou a vida!
Por isso devíamos poder escrever Amo-te na pele como no
papel. Dizia-te eu. Quando nunca me escrevias.
Gostava de poder dizer que te dei ouvidos. Mas insisto
que também se pode amar quando se escreve. E amei-te melhor quando escrevi. E tu,
tu tiveste-me melhor, quando escrevia!
Ouve: só por palavras se pode ser em tudo quanto se amou.
Dizia-te eu quando não te escrevi. Nunca mais.
Ali reconstruímos vezes sem conta essa dança primitiva
entre o sim e o não.
Agora já não há o arrepio por não ter corpo que os dedos
irresponsáveis pudessem descobrir, e que foi solidão por já não haver!
Que já não é.
Aqui. Agora.
Há ausências que são felicidades!
Agora já só tenho memórias ridículas de coisas que pelos
vistos foram feitas para ser ridículas. Ou muito ridículas. Como as palavras com
que se prostitui o papel que se gasta em cartas. Qualquer pedaço de papel.
Esqueci a tua voz: segredo asilado em fendas que me
esqueci de fechar.
O segredo já não é nada. Agora.
As palavras não eram nada? Ignoro o que isso seja, ser
nada. Palavras que são nada. Palavras que não devem?
Só as que nunca te
consegui dizer podiam ter sido tudo. Agora. E que nunca mais te escrevi.
Se te encontrasse hoje não me lembraria da tua face. E já
tinha esquecido a tua voz. Apercebi-me por fim que o esquecimento não é nenhuma
ferida.
Só lamento ter-me apaixonado por caminhos por onde não
fui. Mas agora sou outras coisas. Também sou outras coisas.
E foi assim a brincar que partimos o coração, que perdeu
peças e agora não quer funcionar. E à força de não funcionar, se não se
consertam pessoas, não podíamos ser pequeninos para sempre? Que loucura!
E não há sempre alguma razão na loucura?
Foram beijos aliterados as Palavras escritas num pedaço de
papel qualquer. Agora.
Poema verdadeiro, que atravesse muros, de alto risco, é
ser para sempre. Loucura.
Além-palavra é só e apenas um novo começo.
Outro algum.'
'Maria Supertramp' em Cartas a Paris
*anteriormente sob o título 'o amor não se devia servir das palavras'
Nota: Se alguém quiser partilhar as suas emoções no Cartas a Paris, pode fazê-lo utilizando um pseudónimo.
Bom fim de semana
***
Devo fazer umas visitas constantes a Cartas a Paris!
ResponderEliminarParece-me interessante :))
ResponderEliminarAdorooooooo
ResponderEliminarQue texto lindooooo!
ResponderEliminarBom domingo pra ti.
Beijinhos
Nai Melo
Não conhecia mas o texto é lindo e triste simultaneamente... acho que vou ver melhor o Cartas a Paris.
ResponderEliminarBeijinhos
É uma ideia maravilhosa sem dúvida! E este texto é simplesmente lindo!:)**
ResponderEliminarQue rico texto e que óptima ideia. ;]
ResponderEliminarBeijinho grande, minha Maria honey! Desejo-te uma semana EXCELENTE! Mhuaaaa! ;)
Lindo Maria, o texto é realmente fantástico :)
ResponderEliminarComo é que eu desconhecia este 'Cartas a Paris'?? Obrigada pela partilha, Maria.
ResponderEliminar'Só lamento ter-me apaixonado por caminhos por onde não fui. Mas agora sou outras coisas. Também sou outras coisas.' - Obrigada mesmo :)
Beijinho